De Barcelusa a Sem Divisão
“Se isso aqui fosse um filme, se tivesse um script, poderia dizer que ele esta sendo muito bem cumprido. Uma campanha arrebatadora que quebrava recordes e superava marcas de grandes clubes que fizeram história.” Essa era a Portuguesa de 2011. Quem viu o futebol apresentado nessa época nunca iria imaginar que ela estaria na situação que se encontra hoje.
Com seis rodadas de antecedência, a Lusa conquistava o acesso à elite do brasileiro do ano de 2012 e três rodadas depois, se consagrava campeã da série B. Chegou ainda a ser comparada com o time que tinha o melhor futebol do mundo na época, o Barcelona, ganhando o apelido de Barcelusa. Mas como nem tudo são flores, hoje, a Portuguesa não possui mais divisão para disputar e tem uma dívida gigantesca para arcar.
“Meu maior sonho é ver a Portuguesa de volta na série A do brasileiro e poder fazer parte do elenco que levará ela de volta ao topo do futebol”, fala Rickson Martins, lateral-esquerdo do time.
A queda do gigante
O ano de 2012 não foi muito animador para os torcedores que esperavam o mesmo futebol bonito que viram no ano anterior. O clube chegava do céu ao inferno em apenas quatro meses e meio, quando acabaram caindo para a série A2 do campeonato Paulista, pela segunda vez em sua história. Um começo de ano nada animador para o torcedor lusitano.
Para o campeonato brasileiro decidiram renovar as esperanças e fizeram a contratação do consagrado goleiro campeão do mundo pelo Brasil, Dida, já com 38 anos, mostrando que ainda tinha futebol para atuar na elite do brasileirão. O meia Moisés e o atacante Bruno Mineiro também foram destaques da equipe que terminou a competição na 16º colocação. Um tranquilo empate em 0–0 com a Ponte Preta no Canindé pela 38ª rodada eliminou qualquer possibilidade de queda.
O ano de 2013 parecia melhor para o time. Conseguiu o acesso de volta à série A1 do Paulista, e embora parte da torcida estivesse revoltada com o trabalho do então técnico, Edson Pimenta, a chegada de Guto Ferreira ao clube alavancou o time e culminou com que terminassem na 12º colocação daquele ano, vendo até mesmo uma melhora aos outros anos. Mas o que era festa pela permanência na série A, virou pesadelo dias depois…
Caso Héverton
Quem diria que uma expulsão poderia acarretar na situação que a Portuguesa se encontra hoje? Na 36º rodada do brasileirão de 2013, o meia-atacante, Héverton acabou expulso e pegou gancho de dois jogos no campeonato, ou seja, não poderia mais atuar pelo brasileiro daquele ano. Só que a história fica um tanto quanto estranha a partir disso. Como se sabe que um jogador foi suspenso e leva ele para o banco de reservas? Ou pior, o coloca para jogar no segundo tempo do jogo, sendo que ele não poderia?
Tudo bem, a entrada do jogador não mudaria o resultado da partida, mas a punição se tornou pior do que a encomenda. O STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) puniu a Portuguesa com a perda do ponto conquistado na partida (terminada em 0–0) e de mais 3 pontos, derrubando a Lusa da 12ª para a 17ª posição e, consequentemente, para a zona de rebaixamento à Série B.
O que deixa o caso ainda mais curioso é que isso não aconteceu apenas com a Portuguesa. Muita gente não lembra, mas o Flamengo também escalou o lateral André Santos irregularmente e foi punido com a perda de 4 pontos, porém mesmo com a punição, a Portuguesa foi quem levou a pior, salvando o Fluminense que era o rebaixado até então, e o Flamengo.
A torcida estava revoltada. Até metade de janeiro não era possível dizer se era o Fluminense ou a Portuguesa que jogaria a série B. Os advogados da Lusa até tentaram buscar por alguma brecha que pudesse reverter à situação, mas nada disso foi possível. Deixando os torcedores ainda mais furiosos.
“A Portuguesa ficou sozinha na história, enquanto os corruptores se safaram.” É o que fala o torcedor Ernesto Faria sobre o caso. “Péssimas e corruptas administrações de presidentes e diretores fizeram a Portuguesa chegar onde está hoje. Além disso, descaso total do Ministério Público ao não investigar o Caso Héverton – certamente por envolver a CBF, STJD, Rede Globo e Unimed (Patrocinador do Fluminense na época).”
Após o julgamento final, a tabela ficou assim:
Sem divisão
Para o torcedor Ernesto, ele conta que o dia mais triste como torcedor da Portuguesa, foi ficar sem divisão nacional ao cair da Série D. Mas que apesar disso, ele não sente vergonha em mostrar seu amor pelo clube, “Não posso entrar no táxi, que já saio puxando uma conversa de futebol para dizer que torço pela Portuguesa”.
Depois dessa bagunça toda com o caso Héverton e a grande decepção e desconfiança da torcida com a direção do clube, o time da Portuguesa não tinha mais estruturas tanto de preparo como psicológicas para recomeçar na série B e acabou rebaixada novamente, agora para a série C.
Foi, basicamente, um rebaixamento a cada ano, até que em 2017, a Lusa havia sido eliminada da série D e só a conquista da Copa Paulista poderia garantir uma vaga para disputar novamente o campeonato no ano seguinte. Mas nada disso foi possível, o time terminou na quarta colocação, não se classifica para a série D de 2018 e, pela primeira vez desde o Campeonato Brasileiro moderno em 1971, não disputa a elite do futebol, dependendo a partir de então de uma futura campanha de destaque em competições estaduais para retornar.
Dias atuais, novas esperanças e Zé Maria.
A Portuguesa luta para reconstruir sua história. Para administrar o time, fizeram a contratação do ídolo Zé Maria, que fez história como jogador e agora volta como técnico, para tirar o clube dessa situação. O primeiro passo para se reerguer é uma boa atuação na Copa Paulista, campeonato que se inicia no próximo mês de junho, em que o campeão tem o direito de escolher disputar a Copa do Brasil ou a Série D do ano seguinte. Para o vice, fica a vaga não escolhida pelo campeão.
O jogador Maicom Jesus, contratado no inicio do ano pelo clube, esboça confiança quando perguntado sobre o trabalho do seu novo técnico. “O Zé Maria é top como treinador, faltam palavras para atribuir a ele. Acredito que com seu estilo de jogo, a Portuguesa leva a Copa Paulista.”
Mas nem toda confiança pode esconder os problemas que a equipe vem vivendo. O clube acumula uma dívida gigantesca e o presidente convive diariamente com o descontentamento por parte dos seus torcedores.
Na opinião do torcedor Ernesto Faria, “O primeiro passo para reverter à situação é revelar o quê aconteceu em dezembro de 2013. Isso provocaria uma revolução no futebol nacional, pois entregaria os corruptores. A partir daí, ações de marketing seriam possíveis de acontecer, hoje não existe essa possibilidade, por causa justamente da imagem arranhada e da bagunça que os dirigentes mantêm dentro do clube. A dívida também é muito alta para as receitas do clube, pois deve estar por volta de 400 milhões de reais. O atual presidente parece ter como único objetivo destruir o clube para tentar lucrar algo com a venda do patrimônio. Todos os torcedores que gostam e vão aos jogos pensam assim”.
Texto super esclarecedor sobre a história da queda da lusa